Consumo de cerveja foi ‘banalizado’ no Brasil, mas é álcool e traz riscos

Aprenda a se divertir sem álcool

“A música diz que cachaça não é água; e eu digo: cerveja também não é água não”. A lembrança feita pelo professor de neurologia da Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente da Sociedade Brasileira de Alcoologia, José Mauro Braz, é um alerta.

Especialistas em alcoologia e especialistas em dependência química veem a banalização da cerveja como um problema sério de saúde pública, afetando cada vez mais jovens.

A cerveja goza de “privilégios” em relação a outras bebidas no nosso país. A lei 9.294, de 1996, vetou a propaganda de bebidas alcoólicas, mas fez uma ressalva: “consideram-se bebidas alcoólicas, para efeitos desta Lei, as bebidas potáveis com teor alcoólico superior a 13 graus Gay Lussac.”

Como, em média, as cervejas no Brasil têm teor alcoólico de 5%, elas estão livres para usar e abusar de pessoas em cenários paradisíacos bebendo. “Isso é enganoso, não é uma bebida leve. A cerveja é uma bebida alcoólica como outra qualquer. E outro aspecto: é a bebida mais consumida por jovens e pelas mulheres”, alerta Braz.

Ele defende que a cerveja deveria entrar na mesma lista de proibição.

“Cachaça, vodca e vinho não têm mais propaganda. Mas cerveja não só tem liberação, como patrocina eventos como o Carnaval, fazendo uma associação dela a festas. O Brasil é um país que bebe muito. Somos um dos maiores consumidores de álcool, com destaque para cerveja”, diz.

Nós temos uma bebida que sai com o falso argumento alegado que ela seria fraca por conta do teor alcoólico, mas isso é puramente uma questão de cálculo. Uma taça de vinho, uma dose de cachaça ou uísque têm a mesma quantidade de álcool de uma lata de cerveja”, afirma Braz.

É considerado uso abusivo de álcool a ingestão a partir de quatro doses entre as mulheres e cinco entre os homens em uma mesma ocasião em um intervalo de 30 dias. O consumo de álcool é associado a uma série de mortes por doenças não só fígado, mas cânceres e circulatórias.

Existe uso recreativo em eventos sociais; o uso abusivo, com a quantidade acima do limite permito do ponto de vista físico e psicossocial; e existe a dependência, com compulsão para o uso, sintomas de abstinência, prejuízo funcional, laboral e familiar. É uma doença reconhecida pelo Código Internacional de Doenças dividida em leve, moderada e grave.

Porta de entrada

A psicóloga especialista em dependência química Roseane Albuquerque trabalha desde 2012 com dependentes em Alagoas e afirma: a grande maioria de quem chega para tratar alcoolismo começa com a famosa cervejinha.

“Ela é realmente a porta de entrada. A gente sabe que, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, o início da ingestão de bebida é precoce, e o carro-chefe é a cerveja. As pessoas que eu atendo normalmente iniciaram uso bem precoce, alguns com 8, 10 anos de idade. E eles iniciaram pela cerveja, normalmente em casa, com familiares, com amigos e em festinhas”, explica.

Segundo Albuquerque, por ser uma bebida com menor teor alcoólico, existe uma maior permissividade dos pais na ingestão. “Você vai desenvolvendo uma tolerância, precisa de doses cada vez maiores e disso vem o processo de dependência. Depois de estabelecida a dependência química, essa pessoa, esse adolescente já vai estar em outra fase: vai dar continuidade a esse uso, vai evoluindo e muitas vezes vai para outras drogas ilícitas”, completa.

Fonte: Viva Bem UOL

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