A pandemia que parou o mundo também abalou a vida tranquila que o Edilson leva em Arujá, no Cinturão Verde de São Paulo. Os clientes do rancho que ele administra desapareceram quando a quarentena começou. Falta dinheiro para pagar internet paras aulas à distância da filha, que ele cria sozinho desde que ficou viúvo.
“Não dá por causa da dificuldade da epidemia que a gente está. Tem que pagar aluguel da baia e internet. Para nós, sai bem carinha, que é um orçamento que a gente nem imaginava ter ele agora. Aí aperta bastante”, explica Edilson Rosário da Silva, tratador de cavalo.
Segundo o IBGE, dos brasileiros que não usam internet, um em cada quatro enfrenta a mesma dificuldade que o Edilson: não podem pagar porque consideram que o acesso é caro. E nem metade dos moradores das áreas rurais usa o serviço.
A solução que o Edilson encontrou dá trabalho. Três vezes por semana ele faz todo o serviço no rancho e vai atrás de um sinal de internet, a pé, até a escola da filha.
A escola está fechada desde o começo da quarentena, mas de portas abertas para as famílias que não têm condições de pagar pela internet. Foi aí que o Edilson começou a bater ponto no colégio para baixar os vídeos com as aulas.
“Todos os dias ele vinha. Todos os dias, saindo do trabalho, ele passava e ficava. Às vezes eu me perguntava: o que ele faz aqui, sentado lá fora. Ele falava: ‘eu baixo tudo. Eu baixo material da minha filha, eu baixo minhas coisas, eu baixo o que eu preciso’. Eu falei: ’poxa vida’. Eu mesma não imaginava que tinha sido tão ampla a ideia de baixar, de ceder o sinal para os pais, que seria tão amplo assim”, conta Maria Goretti Aguiar Alencar, diretora da escola.
A jornada só termina depois de quase uma hora andando até chegar em casa. E aí começa a da Nataly: as aulas remotas pelo celular de tela quebrada. Nessa hora, o tratador de cavalos que só conseguiu estudar até a antiga quarta série, vira professor e aluno.
“Às vezes eu também viro professor dele, que ele não sabe algumas coisas e eu ensino para ele”, diz Nataly Santos da Silva, 10 anos.
“A divisão, eu sou rude nela porque é difícil. A Nata me ensinou porque a Nata sabe dezena, centena, unidade e eu não sei muito. Já a Nata me ensina bastante essa parte aí”, conta Edilson.
A Nataly vai treinando com o pai o que ela quer para o futuro.
“Quero ser professora”, conta Nataly.
Um sonho que também é do pai.
“Eu quero que ela chegue mais longe. Onde eu não pude alcançar, eu quero que ela alcance. Essa jornada de nós estar indo lá, gravando vídeo lá na escola, fazendo aqui, também ela aprende e eu aprendo com ela”, diz o pai.
Fonte: G1.