Há 12 anos, paratleta convive com a esclerose múltipla: “Sou capaz de fazer coisas extraordinárias”

Conheça a história do nadador de Presidente Prudente, Neto, que fez do diagnóstico da doença o início de uma nova jornada em meios as incertezas

Salvador Cruz Neto, conhecido popularmente por Neto, 30, nasceu em Presidente Prudente e reside até hoje na cidade. O paratleta contou a equipe do ‘Tupãense Notícias’ como a sua vida se transformou ao ser diagnosticado com esclerose múltipla (doença autoimune), no ano de 2009. Mesmo com o diagnóstico e em meio às incertezas que a doença trouxe, Neto não paralisou sua vida, pelo contrário, mantém ela ativa em um cenário cheio de experiências.

“O diagnóstico de esclerose múltipla foi o marco inicial de uma vida de incertezas. Faz 12 anos que o início da minha verdadeira jornada começou, ou, pelo menos, abriu as portas para que outras aventuras acontecessem e ainda hoje me leva para lugares dos quais eu não conheço”, relata.

Segundo ele, a esclerose mostrou o quanto ele é capaz de fazer coisas extraordinárias; coisas das quais ele jamais pensou um dia fazer. “Graças a esse acontecimento conheci pessoas maravilhosas, somei amigos e afastei-me naturalmente de quem não queria meu bem. Acredito que a vida segue um rumo cíclico e com o tempo entendemos que as coisas precisam acabar para outras acontecerem”.

Neto até o momento passou por quatro tipos de tratamentos para controlar a doença. Conta que o último foi o mais agressivo, porém o que de fato mantém a doença em estabilidade. Apesar dos desafios diários, com vários motivos para murmurar, ele crê que os milagres acontecem diariamente em sua vida.

“Decorrente aos surtos anteriores provocados pela doença tornei-me uma pessoa com deficiência (PCD), mas nunca deixei de acreditar em milagres, em particular os que acontecem todos os momentos e muitas vezes não enxergarmos”, declara.

A família é sua inspiração, e ao falar do seu amor por eles, faz questão de destacar a relação com o sobrinho. “É maravilhoso participar do crescimento do meu sobrinho, pegá-lo nos braços e ver o quanto a vida pode ser linda”.

Questionado sobre sua fé, ele não esconde que em determinados momentos ela foi abalada e que por muitas vezes questionou ao Criador, com perguntas do tipo: “Deus, por que dar doença ao seu filho?” e ele destaca que a resposta veio ao seu coração. “Compreendi que as doenças e as dificuldades não vem de Deus, pelo contrário, Ele nos fortalece para continuarmos na luta e nos carrega nos braços quando não temos mais ânimo para continuar”, reflete.

Em 2019, no Hospital Sarah Kubistchek, em Brasília, durante 30 dias ele passou por uma reabilitação intensiva. “Tive a oportunidade de conhecer caminhos diferentes e possíveis para recomeçar, além do crescimento pessoal que adquiri. A palavra gratidão ganhou outros significados para mim”, disse.

O relato de Neto, retrata alguns dos desafios de quem tem o diagnóstico. Embora os sintomas sejam visíveis, eles tendem a se gravar em surtos, que melhoram significativamente em dias ou semanas.

Sofrimentos, dores, desafios, alegrias, vitórias, derrotas, gratidão, incertezas, fé, são diversos sentimentos vividos por quem enfrenta a rara doença. E, mesmo diante de tudo que já enfrentou, Neto sorri, supera e se coloca como instrumento de cura para muitos que vivem os dramas pessoais traduzidos pela esclerose.

Conquistas

Atualmente Neto faz parte da Associação de Paradesportivos do Oeste Paulista (APOP) na modalidade de Natação. É paratleta e deixou a aposentadoria por invalidez. Trabalha na Coordenadoria dos Direitos da Pessoa Com Deficiência na Cidade de Presidente Prudente/SP.

Como paratleta, vencer seus próprios limites é motivação. “Quero conquistar melhores tempos, concretizar objetivos traçados. A verdadeira superação é enfrentar a falta de acessibilidade, de oportunidade e enfrentar pessoas não inclusivas”, revela o profissional.

A emocionante história do nadador Neto é mais uma prova de que a vida tem lá seus altos e baixos. E que o privilégio de estar vivo é uma dádiva e a forma como você encara os desafios fará toda a diferença.

“Cultivo a fé e acredito fielmente que meus sonhos estão só começando, ou melhor, já começaram, mas tudo muda e novas possibilidades surgem, a trajetória não é fácil, mas também não é impossível, o caminho é cheio de amigos e conquistas”, enfatiza Neto, que fez do diagnóstico da esclerose múltipla, o início de uma nova jornada em meios as incertezas.

Entenda a Esclerose Múltipla

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória crônica, provavelmente autoimune. Por motivos genéticos ou ambientais o sistema imunológico começa a agredir a bainha de mielina (camada de gordura que envolve as fibras nervosas na substância branca do cérebro e na medula espinhal), comprometendo a função do sistema nervoso (cérebro e medula) ao atingir diversas funções ligadas ao trânsito de informações dos neurônios para o resto do corpo. Quando esse caminho é prejudicado pelas lesões provocadas pela enfermidade, essas informações se espalham gerando diversos sintomas.

Os ataques, chamados surtos, são crises inflamatórias que danificam a bainha de mielina causando cicatrizes, também chamadas de placas ou lesões. Há ainda, desde o início da doença, degeneração das próprias fibras nervosas ou axônios. Os surtos ocorrem aleatoriamente, variando em número e frequência, de pessoa para pessoa.

Sintomas:

– fadiga;
– distúrbios visuais;
– rigidez;
– fraqueza muscular;
– desequilíbrio;
– alterações sensoriais;
– dor;
– disfunção da bexiga e/ou do intestino;
– disfunção sexual;
– dificuldade para articular a fala;
– dificuldade para engolir;
– alterações emocionais;
– alterações cognitivas.

Tratamento:

Embora ainda não exista cura para a EM, há tratamentos medicamentosos que buscam reduzir a atividade inflamatória e a ocorrência dos surtos ao longo dos anos, contribuindo para a diminuição do acúmulo de incapacidades durante a vida do paciente. Além do foco na doença, tratar os sintomas é muito importante para a qualidade de vida desses pacientes. Os medicamentos utilizados, bem como todo o tratamento, devem ser indicados e acompanhados pelo médico neurologista de forma individualizada.

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Sobre o autor

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Muryllo Simon

Jornalista, graduado em Letras e Social Media, Muryllo Simon é também apresentador de eventos e influenciador digital. Como repórter do Tupãense Notícias, destaca-se pela sua performance com entrevistas ao vivo e coberturas especiais.

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