Entretanto, entidade que conta hoje com 35 cooperados enfrenta problemas com falta de recicláveis e vandalismo
O vice-presidente da Cooperativa de Trabalho dos Recicladores de Tupã, Rafael Oliveira da Silva, disse que atualmente a entidade conta com 35 trabalhadores que vem separando nestes últimos meses uma média de 75 toneladas de recicláveis secos por mês. “Hoje estamos coletando cento e cinqüenta toneladas de resíduos sólidos por mês. Entretanto, durante o processo de triagem metade é descartado no lixo porque não serve para nada. Ou seja, conseguimos separar hoje setenta e cinco toneladas por mês”.
De tudo que é selecionado pelos cooperados a maior parte é composta de vidros em geral. Em seguida, esta o papelão (Tetra Pak, papel branco, papel colorido, cartão), plástico (pet, lona, garrafas como condicionador, xampo e embalagens de produtos variados) e materiais eletrônicos em geral. Lembrando que lâmpadas, embalagens de produtos agrotóxicos, resíduos hospitalares e os resíduos orgânicos não são recolhidos pela cooperativa.
Na oportunidade, Silva pediu para que as pessoas façam em casa a separação do lixo orgânico do material reciclável como plástico, papel, alumínio, vidro porque isto gera trabalho e renda para as cooperados e contribui para que não seja descartado no meio ambiente. “Todos os cooperados trabalham somente aqui e dependem deste serviço para sobreviver”. Cada cooperado recebe de acordo com a produção. “Quanto mais materiais recicláveis tiver para separar maior será a produção”, acrescenta Silva. Também disse que fica a critério da pessoa lavar a embalagem dos produtos.
Atualmente cada cooperado da Cooretup ganha em média R$ 60 reais por dia. Ou seja, em média R$ 1.300 reais ao mês, descontado o INSS. Vale destacar, que o serviço não é realizado aos sábados e domingos. Silva contou que a cooperativa não vive bom momento atualmente, pois antes da pandemia, a Cooretup conseguia selecionar mais de 100 toneladas de materiais recicláveis em média por mês. “Hoje tem muitos catadores autônomos que recolhem os recicláveis antes do caminhão passar e eles acabam escolhendo os materiais melhores para eles”, explica.
E é exatamente para atender esta demanda de catadores autônomos que o governo federal lançou neste mês o Planares como mostra a matéria ao lado. O Plano que pretende acabar com os lixões e aterros controlados nos próximos 2 anos e reciclar ou recuperar 48,1 % dos resíduos sólidos urbanos do país até 2040, também tem como meta a formalização de catadores, incentivo à reciclagem e a criação de bioenergia a partir do lixo orgânico.
O secretário de Meio Ambiente, José Rodrigues, disse que o trabalho de coleta seletiva realizado pela Cooretup em parceria com a Prefeitura de Tupã é um exemplo para que outras cidades também adotem este serviço. “Eles vem realizando um excelente trabalho. E a funcionária ou a dona de casa pode colaborar com a coleta seletiva separando os materiais recicláveis do lixo orgânico”. Hoje Rodrigues estima que existam entre 80 a 100 catadores de recicláveis atuando de forma autônoma na cidade. “Aumentou significativamente o número de catadores autônomos, principalmente após o surgimento da pandemia e a necessidade de oferecer o que comer para a família”, observa o secretário.
Outro problema enfrentado pela cooperativa de trabalhadores em Tupã é o vandalismo. “Várias vezes já entraram pessoas aqui a noite e roubaram geladeira, fogão, botijão de gás, maquinário e até produtos de limpeza. Hoje está quase tudo fechado porque conseguimos colocar alambrado em volta de todo o barracão que foi adquirido por uma empresa de São Paulo compradora dos materiais. Só falta mesmo o portão de entrada para o barracão” conta Silva.
Também explicou que a grande maioria dos resíduos recicláveis que selecionam vão direto para as indústrias que realizam o reaproveitamento e outra parcela é adquirida por empresas de Birigui, Marília, Presidente Prudente que compram e vendem para as industriais interessadas. É a chamada Logística Reversa. Com a vinda da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) fabricantes, importadoras, distribuidoras e comerciantes de vários itens são obrigados a reutilizarem seus resíduos sólidos em novos ciclos produtivos. A PNRS traz sanções a quem não reaproveitar seus resíduos, além de prejuízos reputacionais, responde civil, criminal e administrativamente. A logística reversa criou novas oportunidades de negócio e quem se interessar pode entrar em um mercado que movimentou globalmente US$ 563,2 bilhões em 2021.
De olho neste mercado, a Klabin e o Grupo Heineken estão criando o primeiro território 100% circular em embalagens do País. No Paraná, em Telêmaco Borba, cidade de 80 mil habitantes no interior do Paraná, que reciclava apenas 11,7% do lixo, foi escolhida como piloto para o projeto Território 100% Circular em Embalagens.
Outro programa que incentiva o reaproveitamento dos resíduos sólidos urbanos e a formalização destes trabalhadores é o Programa Recicla + que cria o certificado de Crédito de Reciclagem. O certificado pode ser adquirido pelas indústrias para comprovar o cumprimento das metas de logística reversa. Os operadores do programa podem ser cooperativas de catadores, agentes de reciclagem titulares de serviços públicos de limpeza urbana, consórcios e microempreendedores (MEI).
O convênio firmado com a Prefeitura de Tupã tem como objetivo destinar todo o material reciclado para a Cooretup e oferecer transporte diário dos cooperados para a sede da cooperativa que hoje está localizado no Bairro São Gonçalo. Para isso, a Prefeitura disponibiliza caminhões para uso da Cooretup, alimentação e energia elétrica.
*Por Marcus Guilherme Bianchi Yano; jornalista, bacharel em Direito e membro do Rotary Vanuíre de Tupã