Entrevista Exclusiva: “Quatro décadas de dedicação” Subtenente Félix da Polícia Militar de São Paulo abre seu coração e seu álbum de fotografias

Uma vida na linha de frente: Experiências, valores e família

Foto: Arquivo pessoal

O Tupãense teve a honra de entrevistar o Subtenente Félix, um verdadeiro ícone da Polícia Militar do Estado de São Paulo. Com uma carreira que se estende por quatro décadas, o Subtenente Félix é o policial mais antigo em atividade na corporação, um verdadeiro guardião da segurança pública.

Nesta entrevista exploraremos os muitos capítulos de sua vida dedicada ao serviço policial, sua jornada desde os primeiros dias em Tupã até suas experiências na Força Tática e no Judô, bem como seu compromisso inabalável com a hierarquia, disciplina e o bem-estar da sociedade. Além disso, também discutiremos sua passagem pela emblemática ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), um dos batalhões mais respeitados e desafiadores da Polícia Militar de São Paulo.

Félix é casado, pai de duas filhas e avô de um neto, mostrando que a união familiar também é um pilar essencial em sua vida.

Foto: Arquivo pessoal

Vamos conhecer melhor essa impressionante trajetória

Tupãense: Onde o senhor nasceu?

Subtenente Félix: Eu nasci em Arco-Íris, que na época era um distrito de Tupã. Minha família tinha propriedades lá, e eu nasci no sítio do meu avô. Morei a minha vida toda na Vila das Indústrias.

Tupãense: Qual foi o ano em que o senhor ingressou na Polícia Militar e com que idade?

Subtenente Félix: Eu entrei na Polícia Militar em 1983, quando tinha 19 anos. Isso aconteceu logo após o término do meu serviço militar em Tupã.

Na verdade, eu fui para acompanhar um primo meu, o Vantuir (in memoriam), ele queria entrar na Polícia Militar. Mas como éramos “caipiras” nos assustávamos com a ideia de morar na capital, sendo assim, fui fazer companhia para ele.

Tupãense: Qual foi o processo para ingressar na Polícia Militar naquela época? Era concurso como hoje em dia?

Subtenente Félix: Sim, era um concurso, mas havia diferenças em relação aos requisitos. Enquanto hoje é necessário ter o segundo grau completo, naquela época, quem tinha apenas o ensino fundamental já podia participar. O concurso foi realizado na cidade de São Paulo, e eu fui aprovado em todos os exames.

Tupãense: Como foi sua trajetória após ingressar na Polícia Militar?

Subtenente Félix: Inicialmente morei com a minha avó materna em Guarulhos. Posteriormente, fiz a Escola de Formação em Taubaté e estagiei em São José dos Campos.

Tupãense: E sobre sua vida pessoal, você já era casado?

Subtenente Félix: Eu era solteiro e me casei com 24/25 anos, já estava formado, nos períodos oportunos vinha passear em Tupã, em um desses passeios, conheci minha esposa. Estamos juntos até hoje!

Tivemos duas filhas, Janaína e Aline, as duas nasceram em Tupã, a Janaína mora em Tupã e a Aline na França. Ela a cada dois anos vem nos visitar, sou vovô de um garotinho que completou 5 anos no dia 22 de setembro.

Tupãense: Quando o senhor retornou para a região de Tupã?

Subtenente Félix: Depois de um período em São Paulo, pedi transferência para o 9º BPM/I, que abrange Tupã. Fui designado para trabalhar em Arco-Íris, que já era um município independente na época. Fiquei no comando de Arco-Íris por 6 anos.

Tupãense: E qual era seu posto na época em que assumiu Arco-Íris?

Subtenente Félix: Quando assumi Arco-Íris, eu ainda era Soldado. Fui promovido a Cabo após meu retorno para Tupã, por volta de 1994. Logo prestei concurso para Sargento e retornei a São Paulo, onde fiquei por mais cinco anos. Atuei no 1º Batalhão de Choque, conhecido como ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), de 1996 a 1999.

Tupãense: Como foi sua experiência na ROTA?

Subtenente Félix: A ROTA é uma unidade operacional que atua constantemente nas ruas, considerada uma tropa de elite. Ela foi criada em 1970 para combater assaltos a bancos durante a guerrilha e se tornou uma referência a nível estadual, nacional e internacional. Fui privilegiado por trabalhar lá, pois não é qualquer policial que consegue ingressar. Você passa por período probatório em várias companhias para depois se fixar. Apresenta-se também em vários pelotões e viaturas.

Foto: Arquivo pessoal

Tupãense: Você chegou a comandar equipes na ROTA?

Subtenente Félix: Sim, todas são comandas por um Sargento ou Oficial. A Força Tática e o BAEP seguem o mesmo padrão da viatura da Rota. Eu comecei no banco traseiro da viatura, depois fui promovido a segundo e primeiro homem, mas a função de pilotar a viatura é específica e raramente realizada por Sargentos ou Oficiais, apenas em casos raros, posso citar um exemplo; na circunstancia de precisar socorrer um parceiro.

Passei no estágio, fui agraciado com o Braçal e cheguei no banco da frente com a função de comandar uma equipe de ROTA.

Tupãense: Os trabalhos são definidos com antecedência? Estamos falando de São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil e a 4ª mais populosa da mundo.

Subtenente Félix: Não! Apenas quando assumimos o serviço somos informados onde iremos atuar naquele dia.
Você não sabe antes, pode ser em Santos, Diadema, Guarulhos, Grande São Paulo, Operação Presidiária, Centro, entre outros.

A Rota tem área livre em qualquer lugar da capital e nas cidades vizinhas, quando necessário até mesmo no litoral e interior.

Tupãense: Como funcionava o acionamento da ROTA e em que tipos de situações vocês atuavam?

Subtenente Félix: Ela é focada onde está tendo um índice maior de crimes. Ela chega para apoiar o batalhão da aérea.

Tupãense: Quais foram os desafios e marcos mais significativos durante seu tempo na ROTA?

Subtenente Félix: Trabalhar na ROTA envolve uma constante exposição a situações de alto risco. Todos os dias eram desafiadores, e muitas vezes tivemos confrontos com criminosos. Infelizmente, alguns policiais enfrentaram situações de “MDIP”, ou seja, mortes durante ocorrências policiais. Graças a Deus, eu e minha equipe nunca tivemos ferimentos graves, mas sempre havia o risco.

Tupãense: Então o Sub Félix foi um sobrevivente algumas vezes?

Subtenente Félix: Sim! Várias vezes estive presente em confronto na capital, colocando em prática as técnicas que eu aprendi na Polícia, Deus te protege, só que você também tem que saber usar o treinamento da PM, para evitar dano maior e menos lesão possível.

Tupãense: Como fica o psicológico do policial após momentos tensos e a possibilidade de perder a vida?

Subtenente Félix: A adrenalina está sempre a mil. Você pode estar patrulhando normalmente e, subitamente, ocorre um roubo. Isso aciona o chamado “caráter geral”, no qual todas as unidades e viaturas policiais são comunicadas do crime com o objetivo de localizar o risco. A partir daí, ocorrem várias situações de efeito surpresa, em questão de segundos você precisa toma decisões. Nesse momento, você pode passar de herói a vilão.

É um momento muito difícil, somente quem o vive sabe o que realmente acontece. Ali, você pode morrer ou matar, e será sempre julgado. O pós-evento também é complicado, pois inicia-se um processo para apurar se você agiu dentro da legalidade.

Além da pressão psicológica do momento, há a tensão dos desdobramentos da ocorrência. Ela nunca termina na rua; é necessário encaminhar tudo para a Polícia Judiciária, prestar depoimentos e, em alguns casos, comparecer ao Fórum.

O psicológico do policial fica muito afetado. Enfrentar situações de alto risco, onde você precisa tomar decisões em questão de segundos, é extremamente desafiador. A adrenalina está sempre alta, e você precisa se preocupar com a segurança não só da equipe, mas também dos civis ao redor.

Tupãense: Você pode compartilhar um exemplo de um desses procedimentos após uma ocorrência?

Subtenente Félix: Após uma ocorrência, muitas vezes é necessário participar de reconstituições de crimes, prestar depoimentos à Polícia Judiciária e, em casos mais sérios, ser investigado pelo Ministério Público. A tensão não termina na rua e se estende aos desdobramentos legais das ocorrências. É uma realidade que a população nem sempre compreende, mas que faz parte da nossa profissão.

Tupãense: Finalizamos então o período da ROTA, vamos falar da volta para casa. Como que foi essa mudança?

Subtenente Félix: Eu pedi transferência para retornar à região de Tupã, onde pude comandar a Polícia Militar em várias cidades, incluindo Arco-Íris e Queiroz.

Foto: Arquivo pessoal

Tupãense: E quando entra a Força Tática na sua vida?

Subtenente Félix: Em 2005, o Capitão Edson Numazawa (in memoriam) iniciou o projeto PTM (Patrulhamento Tático Móvel), que mais tarde se tornou a Força Tática. Naquela época, havia uma única viatura com quatro homens em Tupã, e eu comandei essa equipe. Foi uma fase inicial crucial para o desenvolvimento da Força Tática na cidade.

Tupãense: Força Tática comemorou 14 anos em Tupã, durante uma cerimônia o Capitão André Vander e os seus companheiros fizeram uma homenagem a você e contaram que o Sub Félix foi o pioneiro e a alma do Tático de Tupã!

Subtenente Félix: Eu comandei a primeira equipe, e havia mais três policiais comigo. Ficamos fazendo o que hoje a Força Tática faz. No começo, como eu mencionei, era chamada de PTM, pois ainda não tinha sido formalmente estabelecida como Força Tática. Eu era Sargento na época.

A viatura já era diferenciada, uma Blazer. Isso ocorre porque o tipo de policiamento requer uma viatura grande para suportar o armamento, o escudo balístico e o de acrílico, já que, dependendo da região em que você vai atuar, é necessário enfrentar situações variadas. Tínhamos submetralhadoras e carabinas, então também utilizávamos outro tipo de armamento.

Tupãense: Qual a diferença entre a Força Tática e a patrulha?

Subtenente Félix: O treinamento é diferenciado! Como meu capitão disse na cerimônia, você está pronto para enfrentar desafios maiores, como roubos a bancos, coibição de ocorrências de sequestro e grandes operações de tráfico. Estamos ali para dar apoio em qualquer situação. A polícia especializada é o último recurso disponível.

O criminoso muitas vezes busca causar o pior possível e pode até usar armas superiores às da polícia. Nesse momento você deve se preocupar não apenas com a sua vida, mas também com a vida dos seus companheiros e de toda a sociedade, pois representamos o Estado.

Tupãense: Quando a Força Tática ganhou reforços?

Subtenente Félix: Em 2007 ganhamos outra viatura, foi quando o Tenente Éder (hoje na reserva) voltou para Tupã, ele também trabalhou na Rota. Ela foi formalizada em 2009, quando o Capitão Bigeschi estava no comando.

Tupãense: Quais os desafios enfrentados por policiais na Força Tática?

Subtenente Félix: Ela não atende ocorrências do COPOM (190), é força reserva do comandante do batalhão. Então trabalha patrulhando, principalmente com o combate ao tráfico de drogas, roubos e furtos. Lida com 11 cidades que pertencem à Cia de Tupã e em grandes eventos, àqueles que têm aglomeração de pessoas, sempre com programação prévia para que o Capitão consiga disponibilizar a Força para apoiar.

Tupãense: Consegue lembrar-se de todos policiais apadrinhados para Força Tática durante esses anos anos?

Subtenente Félix: Difícil! Sei que foram muitos companheiros nesse período: Sargento Rogério, Tenente Butarelli, Cabo Luciano, Tenente Éder, Sargento Tenório, é um grande grupo do qual fiz parte. Realizamos um batismo, e quando você está junto, apadrinha todos (relato com um belo sorriso no rosto). Contribuí bastante com treinamento e apoiei todos aqueles que precisaram.

Tupãense: O sonho da maioria dos policiais é fazer parte de uma Força Especial?

Subtenente Félix: Acredito que sim, a maioria gosta, mas precisamos de bons policiais em todas as áreas. Eu, por exemplo, não gosto de trânsito, enquanto há quem goste e faça isso com excelência. Sou suspeito para falar porque minha paixão sempre foi atuar em Força Especial. Hoje, não estou mais nela, mas foram muitos anos, não é mesmo? Fica gravado no coração.

Tupãense: Hoje você desempenha qual função dentro da Polícia Militar?

Subtenente Félix: Atualmente estou no CGP (Comando de Grupo de Patrulha) em Tupã e em mais dez cidades. Quando estou de serviço, comando ou supervisiono os policiais. Preciso entender o que está acontecendo nas cidades, ficar atento ao rádio, porque às vezes a urbe precisa de apoio, e é necessário designar mais viaturas. Dependendo da gravidade, é preciso deslocar-se até o local.

Se um policial se machuca, também é necessário fazer o registro adequado. Portanto, minha função atual envolve outra série de responsabilidades em comparação com minha época na Força ou na Rota, onde o foco era mais no combate ao crime.

Tupãense: Nós, da sociedade civil, conseguimos perceber que mesmo quase 200 anos após a sua criação, a hierarquia ainda funciona bem dentro da PM! Você concorda?

Subtenente Félix: A hierarquia na PM é flexível, mas não se rompe; a hierarquia e a disciplina são os alicerces de tudo.

Existe um mútuo respeito dentro da PM, tanto do subordinado em relação ao superior quanto do superior em relação ao subordinado. Isso é exigido desde o Soldado até o Cabo, do Cabo até o Sargento, do Sargento até o Tenente, do Tenente até o Capitão, e assim por diante até chegar ao Coronel.

O nosso regulamento é bastante rigoroso; portanto, a insubordinação não é tolerada. Se ocorrer, pode resultar em prisão e demissão, seguindo um processo legal. A PM leva isso muito a sério, porque um ato de desobediência pode abrir espaço para outros casos semelhantes.

Tupãense: Você acredita que a nossa região é privilegiada devido à excelente relação que a PM mantém com a Polícia Civil e com a população em geral?

Subtenente Félix: Os policiais desta região têm um compromisso sólido com a sociedade, a corporação e com todos os aspectos do serviço. A Polícia Militar e a Polícia Civil trabalham de forma muito unida, o que nem sempre é o caso em outras regiões. Portanto, podemos considerar-nos privilegiados nesse aspecto.

Estamos todos combatendo o mesmo inimigo, então unimos as nossas forças.

Tupãense: Félix, você é o Policial Militar mais antigo em atividade no estado de São Paulo, com muita energia e amor pela profissão. O que ainda te motiva?

Subtenente Félix: Eu adoro a Polícia Militar e sou feliz no que faço. Graças a Deus, procuro desempenhar o meu trabalho da melhor forma possível e estender minha ajuda às pessoas em todos os níveis, incluindo os colegas mais jovens que estão entrando na corporação. Testemunhei toda a evolução que a Polícia Militar passou; antes mesmo da Constituição já estava na Polícia Militar.

É essencial ter uma mente aberta para evoluir junto com as mudanças. Consegui me adaptar a todas essas transformações, tanto mentalmente quanto fisicamente, estou bem. Além disso, pratico Judô e mantenho um treinamento constante para manter o condicionamento físico necessário exigido pela corporação.

Tupãense: Você ficou feliz com as homenagens que recebeu pelos seus 40 anos de carreira?

Félix recebeu homenagens pelos seus 40 anos dedicados a PM em 18 de agosto durante comemoração do 14º aniversário da Força Tática de Tupã

Subtenente Félix: Fiquei imensamente feliz com as homenagens e o reconhecimento que recebi. Segurar a emoção foi difícil, pois senti um nó na garganta. Agradeço à sociedade, aos amigos da Polícia Militar e da Polícia Civil por esse carinho.

Continuarei motivado enquanto estiver na ativa“.

Tupãense: Você mencionou que pratica Judô. Poderia nos contar mais sobre sua experiência nesse esporte?

Subtenente Félix: Claro, o Judô é uma parte importante da minha vida. Sou faixa preta e também atuo como professor de Judô. Ministro aulas na Associação Cultural, Esportiva e Recreativa de Tupã (ACERT) todos os sábados.

Tupãense: Como o Judô influenciou sua carreira na Polícia Militar?

Subtenente Félix: O esporte sempre fez parte da minha vida e tem uma ligação direta com minha carreira na Polícia Militar. O treinamento físico e mental exigido pelo Judô me ajudou a manter a forma física e a estar preparado para as demandas físicas da profissão. Além disso, o Judô ensina princípios importantes, como disciplina, respeito e controle emocional, que são fundamentais para qualquer policial.

Foto: Arquivo pessoal

Durante nossa conversa, o Subtenente Félix generosamente abriu seu álbum de fotografias, permitindo-nos vislumbrar não apenas sua incrível jornada na Polícia Militar, mas também sua conexão com a comunidade ao longo dos anos.

As imagens retratam momentos que vão desde suas primeiras experiências até momentos marcantes em sua carreira. Estamos prestes a explorar essas imagens e ouvir as histórias que elas contam.

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