Wellington Rosas estava em regime aberto desde abril de 2023 para cumprir restante da pena de 18 anos. Exame criminológico o considerou apto a voltar ao convívio social. No último domingo (25), ele matou Rayssa após discutir com ela por causa da mãe, de quem é separado.
O pai que confessou ter esganado e matado a filha no último fim de semana após uma discussão, transportado o corpo numa caixa e mandado queimá-lo estava cumprindo fora da cadeia pena por roubos e tráfico de drogas.
Desde abril de 2023, Wellington da Silva Rosas cumpria o restante da punição de mais de 18 anos de prisão pelos crimes em regime aberto por determinação da Justiça. Pela lei, a progressão de regime é dada para presos com bom comportamento.
Wellington estava detido no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Tremembé, interior paulista, depois de ter cometido a partir de 2007 três assaltos violentos e um tráfico de entorpecentes. Outras unidades prisionais da cidade são conhecidas também por receber presos envolvidos em casos famosos, como o ex-jogador Robinho, mais recentemente, e Alexandre Nardoni.
A pedido da defesa de Wellington, a Justiça lhe deu o benefício de cumprir os mais de três anos restantes da pena fora das grades. Para isso, ele se comprometeu a trabalhar numa doceria perto apartamento onde passou a morar, na Bela Vista, Centro da capital.
‘Boa tolerância a frustração’, diz relatório
Wellington Rosas tem 39 anos e diversas passagens criminais — Foto: Reprodução/Polícia Civil de SP
O homem também teve de passar pelo exame criminológico, exigido para progredir do regime semiaberto para o aberto. O g1 teve acesso às informações com o resultado do teste que convenceu a Justiça a colocar Wellington novamente em contato com a sociedade.
O documentou concluiu, por meio de relatórios e laudos sociais, comportamentais e psicológicos, que o homem estava arrependido”pelos danos que causou” e que seus “níveis de agressividade e impulsividade” estavam “sob controle”. Além disso, ele apresentava “boa tolerância à frustração”.
As análises foram feitas por diretores, assistentes sociais e psicólogos ligados à Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), responsável por administrar os presídios paulistas. Desse modo, o Ministério Público (MP) e a Justiça entenderam que Wellington poderia voltar ao convívio social. O que de fato ocorreu.
Aos 39 anos, ele era pai de sete filhos. Um deles foi Rayssa Santos da Silva Rosas, assassinada por Wellington no último domingo (24), quando decidiu visitá-lo na residência dele, na Rua Santo Amaro.
Segundo a polícia, o pai confirmou que matou a filha de 18 anos depois que os dois beberam e discutiram sobre a mãe dela. A mulher estava separada de Wellington havia alguns meses. Rayssa morava com a mãe em outro imóvel no Centro.
Em sua confissão, o homem alegou que ficou com raiva da garota por acreditar que foi ela quem convenceu a esposa a se separar dele. E que Rayssa teria incentivado a mãe a começar a se envolver com outros pretendentes.
“[Wellington] disse que foi para cima da filha porque ela havia ficado ao lado da mãe na separação”, disse ao g1 a delegada Ivalda Aleixo, diretora do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção À Pessoa (DHPP), que investigou o caso.
Ainda, segundo o Departamento de Homicídios, o pai contou ter esganado a filha em seguida. “Por asfixia, na noite de domingo, quando Rayssa estava em seu apartamento”, falou Ivalda.
Depois disso, Wellington declarou que foi dormir com a vítima morta dentro do seu apartamento. E na noite de segunda-feira (25), ele retirou o corpo de Rayssa do imóvel.
Nas imagens que estão com a investigação, é possível vê-lo usando um carrinho de mão para carregar uma caixa de papelão até um elevador. Dentro dela estava o corpo de Rayssa, segundo o Departamento de Homicídios.
“Transportou o corpo da filha em caixa de papelão e utilizou um carrinho. E seguiu para a Avenida 23 de Maio, onde jogou o corpo numa vala existente na pista”, disse a delegada.
Durante o seu interrogatório, Wellington declarou que contratou um andarilho desconhecido para ir a um posto, comprar combustível e queimar o cadáver de Rayssa. “Afirmou que pagou R$ 10 para que um homem em situação de rua ateasse fogo. E para tanto foi utilizado 1 litro de etanol”, comentou Ivalda.
Como Rayssa não voltou para a casa da mãe até segunda-feira, a mulher foi a uma delegacia, onde registrou um boletim sobre o desparecimento da filha.
Corpo estava em buraco
Na manhã de terça-feira (26), a Polícia Militar (PM) foi acionada por testemunhas que viram um corpo carbonizado numa cratera da Rua Asdrubal do Nascimento, na República. A via da acesso à Avenida 23 de Maio, importante e movimentada rota para o trânsito de veículos naquela região.
O local foi isolado para o trabalho da perícia da Polícia Técnico-Científica, que recolheu o cadáver, que depois passou por análise e extração de fragmentos para comparação genética com familiares de Rayssa.
Após a confirmação de que o corpo era da jovem desparecida, o DHPP prendeu Wellington nesta terça-feira. Segundo a investigação, ele confessou ter matado a filha. Levado à sede do departamento, o homem foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, por usar recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio. Ele também responde por destruição e ocultação de cadáver.
Justiça decreta prisão
Wellington Rosas aparece em vídeo carregando caixa com o corpo da filha Rayssa, segundo a polícia — Foto: Reprodução/Polícia Civil de SP
O DHPP pediu à Justiça a conversão da prisão em flagrante de Wellington em preventiva, o que ocorreu durante a audiência de custódia na quarta-feira (27).
A prisão preventiva determina que alguém fique detido até seu eventual julgamento pelo crime.
Wellington já tinha passagem criminal anterior por tentativa de homicídio, segundo policiais ouvidos pela reportagem. O caso teria sido arquivado pela Justiça.
Testemunhas e familiares de Rayssa continuarão sendo ouvidos pelo DHPP. Para a delegada do departamento que investiga o caso, Wellington é “cruel, frio e mau”.
“A mãe estava desesperada e temendo que se ele não fosse localizado e preso poderia tentar matar o outro filho menor ou mesmo ela. O objetivo dele era atingir a ex-esposa com a morte da filha”, afirmou Ivalda. “Não é possível tamanha crueldade, frieza e maldade em um homem, em um pai. E por quê? Porque foi rejeitado por uma mulher.”
O que dizem os citados
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Wellington para falar sobre o caso.
Por meio de nota, a Secretaria da Administração Penitenciária informou que o preso foi levado para o Centro de Detenção Provisória 2 em Pinheiros, Zona Oeste da capital.
“Em 18/04/2023, devido à progressão ao regime aberto, por concessão do Poder Judiciário, o custodiado obteve a saída do Centro de Progressão Penitenciária de Tremembé. Detalhes de processos devem ser obtidos com o Tribunal de Justiça de São Paulo”, informa trecho do comunicado sobre Wellington.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) não comentou o assunto.
Reprodução G1