Médica chega à Tupã para oferecer atendimento humanizado e trazer um novo olhar sobre o envelhecimento
Dra Mirele Santos – Geriatra
A médica Mirele Santos, especialista em geriatria, acaba de se instalar em Tupã com uma missão clara; cuidar da população idosa com respeito, escuta e amor. Natural de Marília, ela traz na bagagem uma formação robusta, construída com esforço pessoal e motivada por experiências familiares profundas. Ao escolher deixar os grandes centros para atuar no interior, Dra. Mirele reforça o valor do vínculo com o paciente e o compromisso com um envelhecimento mais saudável e digno.
Formação de excelência, com raízes humildes
Último dia de residência dela em Geriatria
Filha de uma família simples, Mirele sempre ouviu do pai — um homem determinado que veio do norte de Minas — que a educação seria o único caminho. Ele, que fez faculdade logo após se casar, inspirou os três filhos trigêmeos a seguirem seus sonhos. Ela e a irmã seguiram a medicina, e o irmão optou pela arquitetura.
Por meio do ProUni, Mirele formou-se na Unimar, onde começou sua jornada médica. Fez residência em Clínica Médica na FAMERP, em São José do Rio Preto, e residência em Geriatria na UNESP, em Botucatu — ambas instituições públicas de grande prestígio. Paralelamente, realizou uma pós-graduação em Cuidados Paliativos e Terapias de Dor pela PUC/MG.
“Eu sabia que só conseguiria estudar com bolsa, então foquei no Enem. Trabalhei no terceiro ano do ensino médio e foquei tudo no ProUni. A Unimar foi minha porta de entrada”, conta.
Dra Mirele durante sua apresentação de trabalho de conclusão de residência
O interesse por geriatria surgiu ainda na graduação, quando participava de uma liga acadêmica voltada à área. Mas foi com o avô, que enfrentava problemas de saúde e dependia exclusivamente da rede pública, que a escolha virou missão. “Eu dizia que me especializaria para cuidar dele. Infelizmente, ele faleceu antes de eu terminar minha formação. Isso me fez repensar tudo. Decidi que, o que não consegui fazer por ele, farei por outros.”
Mirele conta que quatro dias após o falecimento do avô, viajou para um congresso médico. “Aquilo me deu clareza: eu não queria só tratar doenças, queria cuidar de pessoas.”
Dra Mirele abriu o coração e o álbum de fotos familiar para o Tupãense. Onde demostra o amor por sua família e em especial seu avô que foi a grande inspiração para sua carreira
Dos grandes centros e de volta ao interior
Apesar de ter vivenciado grandes estruturas hospitalares durante sua formação, o desejo de voltar ao interior sempre esteve presente. Mirele viu em Tupã uma cidade com potencial de crescimento, boas condições de vida e uma população que precisava do olhar especializado da geriatria.
“O interior oferece algo que os grandes centros muitas vezes não conseguem: tempo. Tempo para escutar, para criar vínculo. Isso é essencial quando se trata de cuidar de idosos.”
A decisão de vir para Tupã foi facilitada também pela rotina do marido, que trabalha remotamente como economista. O casal, que cogitava se mudar para Brasília, reviu os planos após o falecimento da avó de Mirele. “Queríamos qualidade de vida, estar perto da família e viver em uma cidade que nos acolhesse. Tupã reuniu tudo isso.”
Geriatria: o cuidado que integra corpo, mente e história
Dra. Mirele explica que a geriatria não se limita ao cuidado médico tradicional. “A gente não olha só para a pressão, o colesterol ou o coração. Avaliamos cognição, nutrição, humor, audição, risco de quedas, funcionalidade e muito mais. A consulta é longa porque envolve tudo o que compõe a vida daquele paciente.”
Segundo ela, o papel do geriatra é como o de um maestro, coordenar os cuidados de forma integrada, ouvindo o idoso e considerando seus valores e desejos. “Não adianta propor um plano perfeito se não escutarmos o que aquele paciente está disposto a fazer. A autonomia precisa ser preservada.”
Outra área de atuação da médica são os cuidados paliativos, frequentemente associados apenas a pacientes terminais — algo que ela faz questão de desconstruir. “Paliativo não é fim de linha. É cuidado integral para quem convive com uma doença crônica, incurável, como insuficiência cardíaca ou renal. É aliviar sintomas físicos e também emocionais e espirituais.”
Na residência, Mirele atuou em uma enfermaria voltada a pacientes extremamente frágeis. “Aprendi a importância de cuidar não só da doença, mas da pessoa que vive com ela.”
A médica observa que, muitas vezes, a sociedade ainda associa envelhecimento a dor, perda de memória e limitação.
“Muita coisa é vista como ‘normal da idade’, mas não é. Dor crônica, depressão, confusão mental — tudo isso merece atenção. Envelhecer não significa sofrer.”
Ela explica que mais de 40% dos casos de demência do tipo Alzheimer poderiam ser evitados se os fatores de risco fossem tratados entre os 30 e 45 anos. Por isso, inclusive, é cada vez mais comum que pessoas jovens busquem avaliação geriátrica para um envelhecimento saudável.
Dra. Mirele também destaca o problema do etarismo, a discriminação pela idade, que muitas vezes parte da própria família. “O filho assume o controle da medicação, da alimentação, das finanças, e sem perceber tira a autonomia do idoso. Isso é um tipo de violência sutil. Quando tiramos a funcionalidade, tiramos a identidade da pessoa.”
Ela reforça que o idoso tem direitos, deveres, voz, e deve ser protagonista do próprio cuidado. “Mesmo com supervisão, ele precisa ser ouvido. E isso começa dentro de casa.”
Comprometimento com a população de Tupã
Recém-chegada, Dra. Mirele já observa que Tupã tem grande demanda na área. “A população está envelhecendo, e muitas famílias não sabem por onde começar. Muitas vezes, o idoso só chega ao geriatra quando já tem múltiplos problemas acumulados. Mas o ideal é vir antes, para prevenir e manter a qualidade de vida.”
Seu objetivo é construir um vínculo duradouro com os pacientes e a cidade. “Tupã me acolheu. Agora é minha vez de retribuir, com escuta, cuidado e respeito.”
Dra. Mirele participou, neste mês de abril, do XXIV Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia
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